Manoel Cipriano[1]
19/05/2023
SUMÁRIO: 1. Palavras iniciais. 2. Origem, historicidade e diversidade da expressão do Bumba meu boi. 3. Bumba meu boi: inspiração, enredo e estrutura narrativa. 4. Bumba meu boi: expansão e diversidade desta manifestação popular. 5. Referências.
1. PALAVRAS INICIAIS
Numa aglutinação de sincretismo religioso, mesclada por elementos do cristianismo com elementos das crenças afro-brasileiras, o Bumba meu boi consiste numa manifestação popular típica dos folguedos do norte e nordeste brasileiros, com sinais particulares e singulares do folclore nacional, cujas raízes se encontra na cultura maranhense. No sentido de ser uma contribuição para o entendimento desta festa, a presente reflexão se atém a elementos da historicidade, a inspiração e estrutura do enredo que a traduz e sobre a sua inserção no âmbito da cultura nacional.
2. ORIGEM, HISTORICIDADE E DIVERSIDADE DA EXPRESSÃO DO BUMBA MEU BOI
Há elementos que indicam a presença desta festa incialmente no território piauiense e no pernambucano; contudo, afirma-se que a festa popular tem sua origem histórica lá por volta dos anos de 1860, tendo surgido no território maranhense, onde nasce como forma de expressão do povo negro e escravo daquela parte do território brasileiro, ainda nos tempos da então província imperial, recebendo, desde logo, a denominação de Bumba meu boi.
Esta manifestação cultural se expande e, pelas mãos maranhenses, chegou ao norte do país, em vista da migração em busca de trabalho, durante o ciclo da borracha, no início do século vinte.
A longo do seu processo histórico, esta manifestação popular sofreu discriminação e passou por perseguição política, chegando a ser proibida a sua realização. Neste sentido, uma legislação de postura urbana restringiu a realização desta festa em São Luís, capital do Maranhão, durante 1876 a 1913, exigindo requerimento às autoridades para autorização.[2]
Atualmente, encontra-se inserida entre as principais festas populares, tendo sido reconhecida como Patrimônio Histórico Brasileiro, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO. [3] Além do que, o Bumba meu boi, tem sido uma das fontes de emprego e renda.
3. BUMBA MEU BOI: INSPIRAÇÃO, ENREDO E ESTRUTURA NARRATIVA
O Bumba meu boi consiste, pois, numa manifestação popular cuja inspiração tem como fonte elementos da cultura indígena, do cristianismo e da religiosidade afro-brasileira, a partir das quais apresenta a morte e ressurreição de um boi, figura em torno da qual se desenvolve.
O enredo, aliás, tem como base o desejo de Mãe Catirina que, grávida, manifesta a vontade de comer a língua do boi mais querido do Fazendeiro. Pai Francisco, cumprindo este desejo da esposa, mata o boi, corta a língua deste e a entrega para Mãe Catirina saborear. O Vaqueiro, ao saber desta façanha, informa o desaparecimento do animal ao Fazendeiro que, tomando conhecimento do sumiço do boi, sai em caçada a Pai Francisco e Mãe Catirina, com o auxílio de indígenas e de caboclos. No final, a invocação das divindades faz com que o Boi volte a viver e, para comemorar, o Fazendeiro oferece uma festança para todos.
A narrativa do enredo se dá numa estrutura que tem como personagens: os Brincantes, representados pelo público participante, seja de forma direta ou indireta; o Boi, figura principal da festa; o Casal, Mãe Catirina e Pai Francisco; o Dono da Fazenda e proprietário do boi; os Vaqueiros, os Indígenas e os Caboclos que têm papel direto na execução da trama; e os Músicos, responsáveis pelos ritmos que acompanham cada um dos atos deste enredo.
As personagens deste enredo utilizam roupas e paramentos que bem as identificam, a exemplo da imagem do boi de pano, com enfeites de papel; chapéu de couro ou chapéu de fita, gibão, perneira e punhal dos vaqueiro; arcos, flechas, cocares e corpo pintado pros indígenas; vestimentas próprias dos rituais de terreiros, dentre outras indumentárias.
A produção musical se dá a partir de instrumentos como o maracá, a matraca, o pandeirão, o tambor onça, o tamborinho, o zabumba, dentre outros; o que tem sido inspiração de compositores e cantores brasileiros, a exemplo de Humberto Barbosa Mendes, autor de Maranhão, meu tesouro, meu torrão, em que descreve as proezas maranhenses, entre as quais a singularidade do babaçu, a Festa da Juçara e o Bumba meu boi, um canto que encanta na voz de Alcione, numa expressão cultural presente na capital, assim como no interior.[4]
4. BUMBA MEU BOI: EXPANSÃO E DIVERSIDADE DESTA MANIFESTAÇÃO POPULAR
Bumba meu boi, uma manifestação cultural do folclore nacional que recebe denominações distintas pelo país afora. Assim é conhecida no Amapá, Pará, Rondônia e Roraima como Boi-bumbá; recebe a alcunha de Boi de Reis ou Boi de São João, durante as festividades de Natal ou no período das festas juninas, no Ceará; na Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte recebe o nome de Boi Calemba; Boizinho é o nome recebido no Rio de Janeiro e em São Paulo, compondo os eventos do carnaval; ainda no Rio de Janeiro, recebe também o nome de Boi-pintadinho; e Boi de mamão, é a denominação recebida no Paraná e Santa Catarina.
O Bumba meu boi faz parte, então, da cultura nacional e se encontra presente pelos canto e recantos do território brasileiro, mantendo-se como um dos elementos que integram a identidade popular, sendo, assim, uma manifestação cultural que ocorre par em par com as festas juninas no território maranhense, com maior concentração na Ilha de São Luís, a capital do Estado; contudo presente também no interior.
5. REFERÊNCIAS
AMORIM, Juliano. Bumba meu boi da baixada: tradição, riqueza e diversidade na cultura maranhense. Disponível em <https://g1.globo.com/ma/maranhao/sao-joao/2022/noticia/2022/06/14/bumba-meu-boi-da-baixada-tradicao-riqueza-e-diversidade-na-cultura-maranhense.ghtml>. Acesso em 18 Jul. 2023.
CAMPOS, Lorraine Vilela. Bumba meu boi. Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/folclore/bumbameuboi.htm>. Acesso em 12 de julho de 2023.
IPHAN. Bumba meu boi é patrimônio cultural da humanidade. Disponível em <http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/5499/complexo-cultural-do-bumba-meu-boi-do-maranhao-agora-e-patrimonio-cultural-imaterial-da-humanidade>. }publicação 09/12/2019. Acesso em 18 Jul. 2023.
LETRAS. Maranhão, meu tesouro, meu torrão. Disponível em <https://www.letras.mus.br/alcione/1654706/>. Acesso em 18 Jul. 2023.
WIKIPEDIA, a biblioteca livre. Bumba meu boi. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Bumba_meu_boi>. Acesso em 16 Jul. 2023.
[1] Manoel Cipriano Oliveira é Mestre em Educação, com Bacharelado e Especialização em Direito, Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Professor Universitário aposentado, foi Defensor Público em Minas Gerais e Servidor do Tribunal Regional da Primeira Região – TRF1. Autor de obras didáticas, poéticas e romances, dentre as quais Noções básicas de filosofia do direito: Iglu Editora, 2001 e Vida de retirante: do arame farpado à favela, a trajetória de uma família, 2001. Jogador de futebol: você já sonhou ser um: Autografia,201; e Amor e existência, um canto à vida, Mepe, 2021. [2] CAMPOS. [3] IPHAN, 2019. [4] Amorim.
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