Manoel Cipriano Oliveira[1]
17/02/2023
SUMÁRIO: 1. Para início de conversa. 2. Carnaval: elementos históricos e atualidade. 3. Carnaval: uma manifestação diversa. 4. Uma janela que se abre para continuidade do debate. 5. Referências
1. PARA INÍCIO DE CONVERSA
O carnaval, esta manifestação do corpo e da alma em poesia, arte, pura cultura e geração de renda, consiste numa das principais festas populares, sendo assim conhecida ontem e hoje em todo o mundo, tendo presença particular no lado ocidental do planeta terra e com singularidade na sociedade brasileira, onde assume a condição de principal festa pela expressão nacional que proporciona pelos cantos e recantos do país.
Para compreender um pouco desta manifestação do espírito cultural da humanidade, a presente reflexão se atém em alguns elementos históricos e atuais deste fenômeno chamado carnaval; passa pela diversidade e pluralidade de sua expressão; e tece algumas considerações sobre seu significado, deixando em aberta a continuidade do debate sobre esta temática tão ampla e tão fértil.
2. CARNAVAL: ELEMENTOS HISTÓRICOS E ATUALIDADE
Há apontamentos de que o carnaval tenha sua origem durante o período medieval, numa ligação direta com o cristianismo desta época. Contudo, os estudos indicam que há sinais de que os povos antigos já realizavam seus carnavais. Tem-se, então, os mesopotâmicos, com as manifestações festivas em uma inversão temporária da ordem das coisas; os gregos, com as festas dionisíacas; e os romanos, com as festas celebradas em homenagem a Baco. Entre os antigos, esta festa era momento em que rolavam bebedeiras, bacanais, dentre outras manifestações dos prazeres do corpo e dos instintos carnais.
Nos tempos medievais, o carnaval se consolida como a festa dedicada aos instintos da carne, numa tradução da expressão carnis levalis ou carne vale, que significa “tirar a carne”, no sentido de se despir dos desejos do corpo, extravasando os ímpetos do humano, em preparação para a entrada no período da quaresma, tempo em que deveria haver abstenção dos prazeres do corpo.
Neste sentido, o carnaval passou a ser um período de festa que antecede à quaresma, tempo de jejum e oração, tendo sido criado com intuito de conter e limitar os desejos “pecaminosos” da carne. Uma manifestação do corpo ligada à ideia de liberação dos desejos, de forma consentida pela religião então dominante, num contraponto ao mundo espiritual.
Caracteriza-se o carnaval do período medieval, a realização de brincadeiras, zombarias, irrigadas a bebedeiras e muito alimento, de forma particular, carne, uma iguaria fora do alcance de grande parte da população desta época.
Introduzido em terras brasileiras, desde o período colonial, o espírito festivo do carnaval se expressa, inicialmente, por meio de brincadeiras de rua, numa forma de adaptação do carnaval português em solo nacional.
Apresenta-se, então, como uma manifestação em que as pessoas jogam farinha, lançam pó, areia, água, confetes, umas nas outras, numa provocação e chamada para cair na folia.
Expressa, assim, uma diversão que se dá com a participação dos entrudos, como assim eram conhecidos grandes bonecos de pano e madeiras que circulavam no meio dos foliões durante os dias de festa carnavalesca.
Ao longo do século XX, com a integração do samba, do mandacaru e do frevo que passaram à condição de símbolos e identidade carnavalescas, esta festa foi se modificando,
A partir dos anos trinta do século passado, o carnaval assume a condição de principal festa popular brasileira. Atualmente conta com blocos de rua, desfiles em clubes e nas escolas de samba, com destaque destas últimas para os sambódromos do Rio de Janeiro e São Paulo.
3. CARNAVAL: UMA MANIFESTAÇÃO DIVERSA
A festa carnavalesca se expressa de uma forma plural e diversa, de modo que se apresenta como fonte de inspiração poética, musical, literária, além de ser também uma indústria cultural que fomenta a geração de renda. Além do que, o carnaval fomenta o turismo e proporciona momentos para construir laços de amizade, firmar namoro e até casamentos, dentre outras relações afetivas e sociais, sendo um universo de possibilidades, enfim.
Os enredos de algumas escolas de samba, a exemplo de “Nessa festa eu levo fé”, da Escola Unidos de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, numa exaltação das diversas formas de crenças; “O aperreio do Cabra que o Excomungado tratou com má-querença e o Santíssimo não deu guarida”, trazendo o cordel nordestino para o sambódromo; “Brava Gente! O Grito dos Excluídos do Bicentenário da Independência", da Beija Flor de Nilópolis, cantando o bicentenário da independência; “Rosa Maria Egípcia", da Unidos do Viradouro, numa homenagem à primeira mulher negra a escrever um livro, dão o tom da diversidade carnavalesca a partir das temáticas adotadas em 2023[2].
Na Literatura, o carnaval inspira a criação de Clarice Lispector, com “Restos de carnaval”, 1968; Lima Barreto, com “O morcego”, 1915; Mário de Andrade, com “Rei Momo”, 1943; Raul Pompéia, com “O carnaval de Recife: impressões de viagem”, 1886; e Sergio Porto, com “Memórias de um carnaval”, 1954, dentre outros nomes brasileiros que se preocuparam em registrar suas impressões sobre esta manifestação festiva nacional[3].
Marchinhas, samba-enredo, frevo, afoxé e axé expressam o caminho feito pelo carnaval, numa diversidade de estilos desta festa ao longo de sua história. Saraus familiares, grupos de convivência, ruas, praças, clubes, trio elétricos, sambódromos, a telinha da televisão são espaços em que esta festa acontece, num sinal do pluralismo que manifesta a singularidade na diversidade do carnaval em cada canto e recanto do território país afora[4].
4. UMA JANELA QUE SE ABRE PARA CONTINUIDADE DO DEBATE
Um olhar no retrovisor dos tempos traz à luz a memória de que o carnaval acompanha a história da humanidade de épocas que remontam aos povos antigos, encontra-se presentes entre mesopotâmicos, gregos e romanos; com a bênção cristã, ganha corpo na época medieval e se espalha por todo o mundo nos dias atuais.
Em território brasileiro, chega com os colonizadores, numa transposição do velho mundo, para se entranhar nestas bandas como principal manifestação festiva da cultura popular nacional. Tem sido fonte de inspiração artística, poética e literária, de modo que seus enredos e temas expressam a crítica política, trazem protestos contra as desigualdades, trazem as lutas e vitórias, apontam para a preservação ambiental, dentre outras manifestações individuais e coletivas, num caldo que mistura o pluralismo na diversidade carnavalesca.
Em sua versão brasileira, uma festa que se renova a cada ano, seguindo a preparação da carne para o início da contenção em jejum e oração do período quaresmal. Contudo, entre as manifestações anuais, vem se manifestando de maneira extemporânea com os carnavais fora de época.
Além da alegria proporcionada, fomenta a indústria cultural no entorno desta festa que contagia os cantos e recantos do território nacional e, em si, expressa no seu regionalismo brasileiro o ser ainda um evento de grandeza popular num mundo real tão desigual. O que impulsiona esta reflexão a ser uma janela que abre portas para a continuidade do debate.
5. REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Alba Maria Fraga. O que escritores brasileiros escreveram sobre o carnaval. Disponível em <https://www.portalsplishsplash.com/2017/02/o-que-escritores-brasileiros-escreveram-sobre-o-carnaval.html>. Publicação de 28/02/2017.Acesso em 16 Fev. 2023.
DUBAS. Os gêneros mais tradicionais do carnaval. Disponível em <https://dubas.net/os-generos-musicais-mais-tradicionais-do-carnaval-brasileiro/>. Publicação de 08/02/2019. Acesso em 16 Fev. 2023.
SILVA, Daniel Neves. Origem do carnaval. Disponível em <https://biblio.direito.ufmg.br/?p=4474#:~:text=O%20Carnaval%20%C3%A9%20uma%20das,diversas%20brincadeiras%2C%20como%20o%20entrudo.>. Publicação de 16/02/2021. Acesso em 15 fev. 2023.
UOL, Entretenimento. Carnaval 2023: Conheça os enredos das escolas de samba do Grupo Especial do RJ. Disponível em <https://cultura.uol.com.br/entretenimento/noticias/2022/11/30/5442_carnaval-2023-conheca-os-enredos-das-escolas-de-samba-do-grupo-especial-do-rj.html>. Acesso em 16 Fev. 2023.
[1] Manoel Cipriano Oliveira é Mestre em Educação, com Bacharelado e Especialização em Direito, Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Professor Universitário aposentado, foi Defensor Público em Minas Gerais e Servidor do Tribunal Regional da Primeira Região – TRF1. Autor de obras didáticas, poéticas e romances, dentre as quais Noções básicas de filosofia do direito: Iglu Editora, 2001; e Vida de retirante: do arame farpado à favela, a trajetória de uma família, 2014; Jogador de futebol: você já sonhou ser um: Autografia,201; e Amor e existência, um canto à vida, Mepe, 2021. [2] UOL, 2023. [3] BITTENCOURT, 2017. [4] DUBAS, 2019.
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