Manoel Cipriano[i]
24/12/2021
A celebração natalina, para além do glamour do consumo geral e sem limites desta época do ano, traz em si a epifania divina manifestada em um Deus que se fez homem e que, ao nascer num estábulo, escolheu viver com os pobres e se colocar ao lado dos excluídos e marginalizados da terra, assim como aponta para a necessidade do engajamento diuturno na luta por uma sociedade plenamente solidária e que, de tão humana, seja expressão singular da justiça entre os povos, traduzindo, então, o sentido histórico de mais de dois mil anos da vinda de Jesus a este mundo.
Segundo o Evangelista Lucas (cap. 2, 6;7), Jesus nasce numa cocheira à entrada da cidade, uma vez que não havia lugar para a sua família na sala da hospedaria. João (1,1-18), por sua vez, afirma que o verbo se fez carne e habitou entre nós. Um e outro confirmam, então, a situação de uma vida à margem na forma humana de um Deus na simplicidade de uma criança e que, como verbo encarnado, fez da palavra o instrumento de enfrentamento das narrativas dos doutores da lei, assim como dos senhores do poder, durante os trinta e poucos anos em que peregrinou por esta terra, sem ter sequer um lugar onde reclinar a cabeça; foi morto, também fora da cidade, cumprindo a sina dos revolucionários de sua época: a morte na cruz; o que demonstra que, ao nascer na periferia, Jesus teve a preocupação, em particular, de se colocar a serviço da vida, adotando a dignidade humana como prioridade.
Neste ano que chega ao fim não foram poucas as dificuldades encontradas por mulheres e homens, jovens e crianças marginalizadas e excluídas vivendo, dentre outros fatos, o movimento de enfrentamento da pandemia presente em todos os povos, com efeitos mais acentuados nos países periféricos, realidade presente de forma profunda na sociedade brasileira, com danos irreparáveis ao conjunto da nação e, em especial, aos que vivem nas periferias dos grandes centros urbanos, nas médias e pequenas cidades por este país afora.
Contudo fica, aqui, a esperança de que as celebrações da festa natalina tragam de presente as boas energias para que cada uma, cada um e a coletividade caminhem rumo à superação das velhas estruturas e avancem rumo a construção de uma sociedade justa e sobretudo humana como resultado do nascimento de um Deus que se fez humano na pessoa de Jesus, manifestando toda a sua grandeza na pureza e na simplicidade de uma criança que, ao nascer, foi acolhida numa manjedoura, escolhendo, assim, o lado dos excluídos e marginalizados da terra. .
Um Natal pleno de afetos fraternos, em construção de solidariedade e alimentado pela esperança na superação das adversidades encontradas na caminhada existencial.
[i]Manoel Cipriano é Mestre em Educação, com Bacharelado e Especialização em Direito, Bacharelado e Licenciatura em Filosofia, todos pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Escritor de obras didáticas, poéticas e romances, dentre as quais Noções básicas de filosofia do direito: Iglu Editora, 2001; Jogador de futebol: você já sonhou ser um: utografia,2017; e Vida de retirante: do arame farpado à favela, a trajetória de uma família, 2014; Amor e existência: um canto à vida, 2021.
Comments