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Foto do escritorManoel Cipriano

ESTRANHAMENTO CULTURAL: EFEITOS DA MIGRAÇÃO NA CONFIGURAÇÃO DA PAISAGEM SOCIAL URBANA


Manoel Cipriano[1]

12/07/2023

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Os caminhos para a paisagem de uma sociedade plenamente urbana. 3. Estranhamento cultural: um dos efeitos da passagem do viver no meio rural à vida no meio urbano. 4. Referências.


1. INTRODUÇÃO


A migração do campo para a cidade, além de ser um dos elementos principais da urbanização mundial, regional, nacional e local, produz mudanças culturais entre o modo de viver no campo e a forma de vida na cidade. Compreender como se deu este processo de modo geral, assim como no âmbito da sociedade brasileira, passa a ser a preocupação da presente reflexão. O que será feito numa leitura dos caminhos do meio rural para a paisagem de uma sociedade urbanizada; atém-se ao estranhamento cultural como um dentre os efeitos gerados por esta transformação; e apresenta algumas ponderações, sinalizando para o cenário que continuará a partir desta nova realidade.

2. OS CAMINHOS PARA A PAISAGEM DE UMA SOCIEDADE PLENAMENTE URBANA


Na perspectiva do processo histórico, a humanidade sai de uma população hegemonicamente nômade e rural, erradica-se e passa a habitar a cidade, urbanizando a sociedade em termos globais. O que se dá, em âmbito geral, em dois momentos básicos: a revolução industrial, entre os idos do século XVII e o pós segunda guerra mundial, no final da primeira metade do século XX.

Neste contexto, observa-se que o processo de urbanização se apresenta de forma distinta entre os continentes do globo, de modo que na América do Norte gira em torno de noventa (80%,70%) por cento; na América Latina, para além de setenta (77,4%); na Oceania, acima de setenta (70,8%) por cento, assim como na Europa que também ultrapassa os setenta (72,2%) por cento; na Ásia, por sua vez, caminhando para os quarenta (39,8%) por cento, assim como na África que atinge quase quarenta (38%).[2]

De igual modo, sente-se que esta situação oscila, quando se toma por base a população urbana em países pobres e países desenvolvidos, a exemplo da Bélgica, em que quase cem (97%) por cento da população se encontra no meio urbano em relação a Ruanda, cuja população urbana ainda está em torno de vinte (17%) por cento. Outro fator a considerar é a forma ordenada ou sem controle em que se dá a urbanização, sendo esta última, a forma descontrolada, uma característica dos países pobres ou subdesenvolvidos.

No Brasil, o processo de urbanização se dá a partir dos anos vinte do século passado e sai de um percentual de trinta e um (31%) por cento nos anos quarenta, chegando a oitenta e quatro (84%) por cento no final da primeira década do século atual.

Na distribuição interna da população brasileira, a região sudeste concentra a maior parte, com cerca de noventa e dois (92%) da população vivendo no meio urbano, juntamente com a região sul que concentra também mais de noventa (92%) da população em área urbana; a região centro-oeste, com aproximadamente noventa (88,8%) por cento; a região norte, caminhando para os 80 (73,53% ) por cento de população habitando o meio urbano, assim como a região nordeste que também caminha para os oitenta (73,13%) por cento de população vivendo no meio urbano.[3]

Os dados demonstram, então, que partimos de uma população predominantemente rural, por volta de 1850, antes da industrialização, para os dias atuais em que há uma projeção que aponta para a chegada a uma população para além de noventa (93,6%) por cento urbana, ainda nos anos cinquenta do século atual. Um movimento de urbanização que tem no êxodo, a migração do campo para a cidade, uma dentre outras causas.

No caso da sociedade brasileira, o êxodo rural teve intensificação na segunda metade do século vinte, de modo particular a partir do final dos anos setenta, adentra os anos oitenta e noventa, chegando ao século XXI com uma paisagem social formada, hegemonicamente, por uma população urbana.

Além de gerar a concentração de grande contingente populacional em regiões metropolitanas, o movimento de saída do campo para o meio urbano muda também a paisagem das médias e pequenas cidades brasileiras.

Tem-se, então, um fenômeno que traz, o afavelamento, o desemprego, a carência de moradia, a precariedade dos serviços públicos essenciais, somados à violência, tendo o estranhamento cultural, como um dentre outros efeitos decorrentes da transformação da sociedade rural em paisagem populacional hegemonicamente urbana.


3. ESTRANHAMENTO CULTURAL: UM DOS EFEITOS DA PASSAGEM DO VIVER NO MEIO RURAL À VIDA NO MEIO URBANO

O viver no campo tem toda uma dinâmica que se dá na forma de produção e reprodução das condições existenciais, assim como na maneira como ocorrem as manifestações culturais, enquanto expressão e realização do espírito humano.

O caçar, o pescar, o lavrar a terra e desta tirar os alimentos necessários à existência, ou simplesmente colher da natureza os seus frutos, assim como realizar o viver em relação com a terra, são elementos que bem identificam a vida no meio rural. E isto, longe de ser romantismo ou saudosismo, nada mais expressa do que uma manifestação da realidade experienciada por aquelas e aqueles que passaram por este processo.

Ainda que considerando a concentração da propriedade do solo como característica da distribuição da terra no âmbito da sociedade brasileira, o viver no campo se fez presente desde antes da colonização europeia, sendo uma realidade dos povos originários, perdurando durante o período colonial, adentrando boa parte do século passado para se estabelecer como paisagem populacional quase cem por cento urbana.

Tem-se, então, um movimento populacional que sai do espaço agreste, migra do campo para cidade, para se aglomerar, formando um ajuntamento de gente vinda de pontos diferentes do território para o espaço de uma mesma cidade. O que gera um impacto imediato em decorrência do estranho viver entre gente estranha, gerando, pois, perdas em relação às raízes culturais, perdendo o vínculo com manifestações como o dançar, o falar, o conviver em solidariedade numa empatia do se ver na vizinhança entre as pessoas que habitam o mesmo lugar. Costumes e simplicidades vividas e sentidas na vida campestre que dão lugar à desconfiança, ao medo e à indiferença para com o ser do outro em forma do semelhante ou do próximo a ser amado.

Percebe-se uma relação entre a geração que ainda possui um pé no campo com a geração que nasce em plena cidade. Desta interação decorre a gestação de uma geração que se estabelece, tendo na vida rural, quando muito, a memória das lembranças narradas pela geração que teve a oportunidade de ouvir falar das experiências do viver no campo. Eis que assim se estabelece a estranheza de um mundo estranho que surge e se faz o cenário decorrente da urbanização consolidada na atual sociedade. O sinaliza para ser a continuidade da paisagem social rumo ao horizonte de uma sociedade cada vez mais urbanizada.


4. REFERÊNCIAS

FREITAS, Eduardo de. A urbanização no mundo. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/urbanizacao-no-mundo.htm>. Acesso em 19 Jun. 2023.

SOUSA, Rafaela. Urbanização. Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/brasil/urbanizacao.htm#Urbaniza%C3%A7%C3%A3o+mundial>. Acesso em 19 Jun. 2023.


[1] Manoel Cipriano Oliveira é Mestre em Educação, com Bacharelado e Especialização em Direito, Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Professor Universitário aposentado, foi Defensor Público em Minas Gerais e Servidor do Tribunal Regional da Primeira Região – TRF1. Autor de obras didáticas, poéticas e romances, dentre as quais Noções básicas de filosofia do direito: Iglu Editora, 2001 e Vida de retirante: do arame farpado à favela, a trajetória de uma família, 2001. Jogador de futebol: você já sonhou ser um: Autografia,201; e Amor e existência, um canto à vida, Mepe, 2021. [2] FREITAS. [3] SOUSA.

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