Manoel Cipriano[1]
21/01/2024
Integrada pelo conjunto de nove estados brasileiros, com uma população próxima de cinquenta e cinco milhões (54.644.582) de pessoas, ocupando uma área de mais de um milhão e meio (1.554.291.744 km2), a região nordeste possui a singularidade de ser o lugar de chegada de negras e negros, sendo também o ponto de onde estes partiram para se espalharem pelos quatro cantos do território nacional, produzindo riqueza, semeando cultura e arte como forma de identidade do povo afrodescendente pelo país a fora.
Assim como se deu o início da ocupação europeia no século XVI, foi também no nordeste brasileiro que ocorreu a chegada de negras e negros que desembarcaram nos Navios Negreiros, também conhecidos como tumbeiros numa referência a tumbas, em vista das mortes ocorridas no curso da viagem por mar. Aportaram em Pernambuco numa extensão com Alagoas, na Bahia, no Ceará e no Maranhão. Uma andança que acompanhou os caminhos de ocupação e de exploração da terra, com a cultura da cana-de-açúcar, ao longo da costa atlântica nordestina; seguiu com a pecuária rumo ao interior; passou pelo cultivo do algodão; um curso histórico em negras e negros se fizeram presentes na condição de mão de obra escrava utilizada desde os tempos da colonização brasileira.
Ainda seguindo o curso da produção colonial escravocrata, negras e negros se vão adentrando o continente desde nordeste para o sudeste seguindo o ciclo de extração do ouro em território mineiro e, neste processo, chegam aos cantos e recantos do território brasileiro.
Tem-se, então, a singularidade de uma região em que a ancestralidade africana de bantos e sudaneses finca suas raízes vinda de Angola, Congo, Guiné e outros pontos de além mar semeando o viver na arte do plantar, do colher, do gingar do corpo, da leveza das rodas de capoeira, das louvações dos terreiros no cultuar deusas e deuses que caminham lado a lado, na música, num batuque que contagia e no passo a passo do descompasso do resistir para existir, partindo do nordeste e daí se vai se multiplicando numa toada de samba e de carnavais pelo território brasileiro afora.
Considerando o conjunto de pessoas que se reconhecem pretas, somadas aquelas que se veem pardas, esta forma toda brasileira de ser negras e negros, os dados aponta para uma população com mais da metade (56,1%) de afrodescendente; o nordeste com 11,4% de pessoas declaradas preta e 63,1% que se reconhecem pardas conta, então, com a presença de 74,5% de afrodescendente no conjunto da população dos nove estados, com uma singularidade de alguns, a exemplo do negritude baiana, maranhense e piauiense que se encontram como de maior percentuais de pessoas autodeclaradas prestas.
REFERÊNCIAS
ALTINO, Luciano. IBGE: população autodeclarada preta cresce 32,4% em 10 anos. Disponível em <https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2022/07/ibge-populacao-autodeclarada-preta-cresce-324percent-no-brasil-em-10-anos.ghtml>. Publicação de 22/07/2022. Acesso em 20 Fev. 2024.
MACEDO, Valmir. No Piauí, 80% dos piauienses se consideram pardos ou pretos; é o terceiro Estado do Nordeste. Disponível em <https://cidadeverde.com/noticias/312176/no-piaui-80-dos-piauienses-se-consideram-pardos-ou-pretos-e-o-3o-estado-do-nordeste>. Acesso em 20 Fev. 2024.
RADIOCÊNCIANACIONAL. Os desafios e perspectivas dos Estados: Bahia concentra maior população negra e tem o maior PIB do NE. Disponível em <https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/acervo/geral/audio/2018-09/desafios-e-perspectivas-dos-estados-bahia-concentra-maior-populacao-negra-e-tem/>. Publicação 19/09/2018. Acesso em 20 Fev. 2024.
WIKIPÉDIA, a biblioteca livre. Região Nordeste do Brasil. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o_Nordeste_do_Brasil>. Acesso em 24 Jan. 2024.
[1] Manoel Cipriano Oliveira é Mestre em Educação, com Bacharelado e Especialização em Direito, Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Professor Universitário aposentado, foi Defensor Público em Minas Gerais e Servidor do Tribunal Regional da Primeira Região – TRF1. Autor de obras didáticas, poéticas e romances, dentre as quais Noções básicas de filosofia do direito: Iglu Editora, 2001 e Vida de retirante: do arame farpado à favela, a trajetória de uma família, 2001. Jogador de futebol: você já sonhou ser um: Autografia,2017; e Amor e existência, um canto à vida, Mepe, 2021.
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