Manoel Cipriano.
04/04/2021.
A comunidade judaico-cristã revive, neste dia, a memória da páscoa; um momento singular na caminhada deste povo; o que sinaliza para a esperança de superação das adversidades como forma concreta da celebração de um Deus que se fez homem e, pela ressurreição, superou a morte para que haja vida em abundância.
O povo hebraico revive, neste momento, a superação da condição de escravo entre os egípcios. O cristianismo, por sua vez, relembra a experiência de a ressurreição de Jesus, após o processo que o levou à crucifixão e morte, em decorrência de em defesa dos pobres e marginalizado, assim como no enfrentamento dos poderosos do seu tempo: sacerdotes, governantes, doutores da lei.
Uma tradição que se encontra entre os pilares de construção do mundo ocidental, em particular, e que influência direta e indiretamente a espiritualidade dos povos, de forma que o cristianismo está na base de organização social e política, sendo momento pascal sinal de expressão mística de grande importância nas relações particulares e coletivas na luta pela vida e na esperança de superação da morte.
Neste momento, a humanidade experiencia as consequências da disseminação e contaminação pelo novo coronavírus entre os povos; o que vem deixando um rastro de mortes em âmbito global e que, no Brasil, caminha para mais de trezentas (328,4) mil vidas tiradas, com mais de doze (12,9) milhões de pessoas contaminadas.
São famílias dilaceradas e pessoas de coração partidos, entristecidas pelas perdas de entes queridos, histórias interrompidas que, por um pouco de atenção, poderiam ter sido evitadas; aos efeitos econômicos, sociais, some-se o adoecimento social, na forma de estresse coletivo, num cenário de estrangulamento do sistema hospitalar, pela falta de oxigênio para socorrer as vítimas em situação grave, assim como pela falta de insumos profiláticos para a contenção da contaminação pelo novo coronavírus.
Um cenário gerado pela falta de unidade de ação para a formulação de políticas pelo governo federal, pelos governos estaduais, pelos gestores municipais para o enfrentamento da pandemia. O que tem se materializada desde a falta do afastamento como medida preventiva à contenção da disseminação do novo coronavírus, impedindo, assim, a contaminação e mortes pelas covid-19; o que se deu, também, pela inexistência de ações públicas para superar a falta de emprego e renda, condições necessárias ao cumprimento da contenção social pelos menos favorecidos e mais atingidos pelos efeitos econômicos e financeiros que aprofundam, ainda mais, as desigualdades sociais.
Em alguns países, tem sido exemplar o compromisso com a vacinação do seu povo; o que sinaliza para a superação da pandemia, com retomada das atividades e do ir e vir da população.
Na sociedade brasileira, contudo, este processo ainda patina, com um pouco mais de onze (11,7%) por cento de pessoas vacinadas, com a primeira dose, e ainda beira os três (3,3%) por cento de pessoas imunizadas com as duas doses, continuando a presença do caos e do desencontro, além da incerteza sobre quando se tornará realidade para toda a população; o que alimenta pessimismo e desalento geral.
Na perspectiva do espírito pascal, superar esta situação exige transpor este momento, produzindo ações particulares e coletivas que sejam sinais de morte aos descaminhos e descalabros do cenário atual, assim como pela tomada de medidas políticas que privilegiem vida acima do lucro.
Necessário se faz que do espírito da celebração pascal alimente, em cada uma e cada um, a esperança e a disposição para a construção de ações para superação deste momento e que possibilitem, assim, o recolhimento social ainda necessário à prevenção da contaminação em massa e à contenção do processo de mortes aos milhares; fomente a produção da vacina pública, gratuita e universal; estimule o replanejamento da unidade de propósito na produção de ações necessárias à retomada da caminhada existencial, numa maneira de efetivação da solidariedade, com justiça social, na forma de políticas públicas como sinais concretos de esperança em Deus feito homem, cuja morte foi superada pela ressurreição para que haja vida em abundância.
Uma Páscoa de afetos fraternos, com vacina para todas e todos, renda básica para os menos favorecidos, solidariedade e esperança na superação das adversidades!
SOBRE O AUTOR
Manoel Cipriano, Mestre em Educação, Especialista em Direito, com Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Autor de obras como Conto e poesias: fragmentos do cotidiano, publicado em 2018 pela Editora Autografia.
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