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Foto do escritorManoel Cipriano

UNIVERSALIDADE E REGIONALIZAÇÃO: OS CAMINHOS DA POPULAÇÃO NEGRA PELO TERRITÓRIO BRASILEIRO


 

Manoel Cipriano[1]

10/01/2024

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Negras e negros no processo de ocupação do território brasileiro. 3. População negra: uma presença regionalizada. 4. Considerações. 5. Referências.

 

1. INTRODUÇÃO

 

Atualmente, mais da metade da população brasileira (54%) se declara negra, quando consideradas as pessoas que se reconhecem pretas ou pardas em relação à cor da pele, segundo dados do censo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) em 2022. Esta população se encontra, em maior ou menor percentual, presente em todas as unidades federativas, cobrindo, assim, o território brasileiro do norte ao sul; o que permite um olhar sobre esta população em um processo de regionalização.  

 

2. NEGRAS E NEGROS NO PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO.

 

A perspectiva de regionalização da presença de negras e negros se dá, inicialmente, a partir do lugar de desembarque dos navios negreiros trazendo esta população desde o solo africano até o de chegada no território brasileiro. Dessa maneira e segundo os dados colhidos, a entrada da população negra em terras brasileiras se deu no sudeste, a partir do Rio de Janeiro; no nordeste, a partir da Bahia e Pernambuco; e no norte, a partir do Amazonas; o que ocorreu considerando a menor distância entre o ponto de partida e embarque, no solo africano, e o ponto de chegada ou desembarque, em território brasileiro.

Neste sentido, entraram pela região sudeste mais de dois milhões e meio (2.559.957) ou 46,8%; pela região nordeste, desembarcaram e entraram pela Bahia mais de um milhão e meio (1.554.006) de africanos ou 32% e, via Pernambuco, foram próximos de um milhão (824.312) ou 17%; e pela Amazônia, no norte do país, foram quase cento e cinquenta mil (141.744) ou 2,9%; e por pontos diversos, cerca de cinquenta mil (50.048) ou 1%, num total de aproximadamente cinco milhões (4.821.127) de africanos que desembarcaram no território brasileiro durante o auge do período escravocrata brasileiro.   

À medida que a ocupação do território brasileiro foi se dando, também ocorre a migração da população negra e escravizada, dado que se encontrava vinculada à Casa Grande, seja para a dedicação aos serviços da terra ou seja nas atividades do dia a dia de Senhoras e Senhores nos afazeres domésticos. Tem-se, assim, uma fase em que as pessoas negras e escravizadas se adstringem a um item entre os elementos integrantes da terra, uma coisa entre as demais coisas e parte da propriedade dos senhores.

Com a declaração formal do fim da escravidão, em 13 de maio de 1888, a população negra, que não teve quaisquer indenização pelos serviços prestados nem obteve incentivos do poder público para a efetivação da liberdade recebida, passou a perambular de um lado pra outro em busca de condições para sobreviver. De início, um caminhar no vai e vem no campo e, em seguida, tomando o caminho da cidade, onde passa a habitar a periferia em morros e mocambos a angariar o bocado para a sobrevivência.

 

3. POPULAÇÃO NEGRA: UMA PRESENÇA REGIONALIZADA

 

A migração interna e a urbanização leva à expansão da presença da população negra para todas as unidades federativas, de modo que a distribuição regionalizada desta presença e considerando a população autodeclarada negra, o Nordeste aparece em primeiro lugar com 11,4%; o Sudeste com 9,6%, o Centro-oeste, com 8,7%, o Norte, com 5,5%; e o Sul, com 3,9% das pessoas que se reconhecem pretas na sociedade brasileira. 

Já em relação à população autodeclarada parda, a região Norte aparece em primeiro lugar com 73,4%; a região Nordeste, com 63,1%; a região Centro-Oeste, com 55,8%; a Região Sudeste, com 35,4%; e a região Sul, com 16,7% das pessoas que se reconhecem pardas.

Somando pretos e pardos, a região Norte aparece com 78,9%; a região nordeste com 74,5%; a região Centro-Oeste com 64,5%; a região sudeste, com 45%; e a região Sul, com 20,6%.

Nesta perspectiva, observa-se que a regionalização da presença de negras e negros, quando consideras as pessoas que se reconhecem pretas, aponta para o nordeste brasileiro como a região que concentra a maior população de afrodescendentes; contudo, quando se considera o conjunto das pessoas que se declaram pretas e pardas, o norte brasileiro, aparece como a região com maior população afrodescendente. Ao sul brasileiro, seja em relação às pessoas autodeclaradas pretas, seja em relação àquelas que se reconhecem pardas ou, ainda, no conjunto, aparece como a região com a menor presença de afrodescendentes.

 

4. CONSIDERAÇÕES

 

Vê-se, portanto, que considerando o processo histórico de chegada e ocupação do território pela população africana inicia a partir de pontos diferentes em que desembarcou ao longo da orla na costa do atlântico. Na condição de pessoas escravizadas, esta população adentra no território brasileiro em correlação com o processo de colonização e ocupação interna do país.

Com a extinção formal da escravidão, a população negra passa a migrar em busca de melhores condições de vida. Neste processo chega às periferias das cidades e, com a urbanização, vai habitar e viver nas periferias.

Atualmente negras e negros se encontram presentes em todas as unidades federativas. A regionalização desta ocupação populacional, quando se considera as pessoas pretas e pardas, num processo gradativo da maior para a menor concentração populacional, aponta a Região Norte em primeiro lugar, seguida pela Região Nordeste, pela Região Centro-Oeste, pela Região Sudeste e, por fim, a região sul.

 

5. REFERÊNCIAS

ALTINO, Lucas. IBGE: População autodeclarada preta cresce 32,4% no Brasil em 10 anos. Disponível em <https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2022/07/ibge-populacao-autodeclarada-preta-cresce-324percent-no-brasil-em-10-anos.ghtml>. Publicação 22/07/2022. Acesso em 08 Jan. 2024.   

ALVES, José Eustáquio Diniz. Brasil tem 85% da população vivendo em grandes centros urbanos. Disponível em <https://projetocolabora.com.br/ods11/brasil-tem-85-da-sua-populacao-vivendo-em-grandes-centros-urbanos/> Publicação 01 de agosto 2022, Acesso 2m 14 Nov. 2023.

COSTA, Eduardo Coutinho da. Migrações negras no pós-abolição do sudeste cafeeiro (1988-1940). Disponível em <https://www.scielo.br/j/topoi/a/jkQ7K3v9WhjBKKdMmvs4kkz/#>. Acesso em05 Jan. 2024.

FERRARI, Hamilton. População cresce com mais pessoas negras e pardas. Disponível em <https://www.poder360.com.br/brasil/populacao-cresce-com-mais-pessoas-negras-e-pardas/>. Acesso em05 Jan. 2024.

OLÍMPIA, Thamires. População negra no Brasil. Disponível em <https://escolakids.uol.com.br/geografia/populacao-negra-no-brasil.htm>.  Acesso em 09 Nov. 2023.

WIKIPÉDIA, a biblioteca livre. Afro-brasileiros. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Afro-brasileiros>. Acesso em 07 Jan. 2024.

 


[1] Manoel Cipriano Oliveira é Mestre em Educação, com Bacharelado e Especialização em Direito, Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Professor Universitário aposentado, foi Defensor Público em Minas Gerais e Servidor do Tribunal Regional da Primeira Região – TRF1. Autor de obras didáticas, poéticas e romances, dentre as quais Noções básicas de filosofia do direito: Iglu Editora, 2001 e Vida de retirante: do arame farpado à favela, a trajetória de uma família, 2001. Jogador de futebol: você já sonhou ser um: Autografia,2017; e Amor e existência, um canto à vida, Mepe, 2021.

 

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