Manoel Cipriano
24/12/2020
Numa retrospectiva e digressão no tempo, o ano que chega ao seu término expressa o processo dialético, materializado no registro de mil e um acontecimentos que marcaram o curso deste ano na relação entre o legado recebido do ano anterior e a herança que ora repassa para o novo ano que se aproxima na continuidade do desfiar o novelo da caminhada existencial individual, particular, familiar, comunitária e universal da humanidade.
O desfecho de dezembro de 2019 trouxe, como presente natalino, os sinais do desabrochar dos primeiros momentos da chegada da disseminação, contaminação e mortes pelo novo coronavírus, logo nominado de Covid-19 mundo a fora e, em voo rasante pelos continentes, aterrizou em território brasileiro. Dizia-se, então: ele já se encontra aqui; chegou ali; avança pra lá; já está pra cá; e assim o vírus foi se tornando presente entre os povos, atingindo os países e continentes, numa velocidade incontrolável, espalhando medo, assustando e causando pânico diante da impotência para conter sua escalada sobre a humanidade.
Logo veio a primeira morte, seguiu-se a segunda, depois uma dezena, passa a centenas, atingiu milhares e, neste momento em que o anos chega a seu término, aproxima-se de centena de milhões de vidas ceifadas; soma que, ainda não foi contida em sua escalada e que continuará seu ritmo na continuidade no ano que se aproxima[1]; o que também se deu, em solo brasileiro, que de meros sinais nos centros urbanos avanço para interior, passando a ser presença em todos os cantos do território nacional, computando, neste momento, mais de sete milhões de contaminados, caminha para cem mil vidas que partiram e sinaliza para aumento na continuidade do ano que está chegando[2].
Para além de números e dados estatísticos, as mortes ganharam identidades conhecidas de colegas de trabalho, amigos e amigos, familiares, pessoas próximas presentes nas relações cotidianas, nomes, rostos, histórias de vida que se foram e ficaram na memória e nas lembranças dos abraços, dos momentos de aconchegos e de convivência, produzindo dor, angústia e adoecimento pela saudade eterna daquelas e daqueles que se foram repentinamente, sem a chance, sequer, de um último adeus em despedida.
Ante a falta algum remédio capaz de conter os avanços do novo coronavírus, apontou para o distanciamento físico ou afastamento social, com isolamento da população, como medida preventiva mais adequada para estancar a disseminação; o que foi adotado como forma de ação política e maneira de dar um tempo para a comunidade científica averiguar as causas e estabelecer o antídoto para imunização das pessoas contra a forma letal da Covid-19 pelo mundo; contudo, alguns países não adotaram igual conduta e se recusaram seguir o isolamento coletivo como forma preventiva, apesar do aumento da disseminação e contaminação e mortes em seus territórios, levando ao estabelecimento de uma pandemia sem igual precedente na história da humanidade; esta foi, então, a postura adotada em território nacional pelo governo brasileiro, subestimando e negando os reais efeitos do vírus, sob o argumento da necessidade de salvar a economia, dentre outras justificativas sem fundamento crível.
Os efeitos da crise sanitária, somados aos reflexos do processo de retirada de direitos em curso na sociedade brasileira, a exemplo da limitação do teto para investimentos sociais pelo poder público, da reforma trabalhista e da reforma previdenciária, precarizaram ainda mais as relações de trabalho, aprofundaram as desigualdades sociais e escancararam a falta de iguais condições para enfrentamento da pandemia, atingindo com maior intensidade os menos favorecidos e excluídos: as trabalhadoras e trabalhadores formais e, com mais tensidade, os informais; moradoras e moradores em condições precárias, com maior peso para moradores e moradores de rua, dentre outras brasileiras e outros e brasileiros país afora.
O limiar do ano que se aproxima aponta para a esperança na superação da pandemia pela implementação de medidas preventivas a partir da imunização da população em vários países do mundo, de modo particular por aqueles que fizeram das condições financeiras um compromisso pela busca do bem estar de sua população, a exemplo da União Europeia, Estados unidos e mesmo países periféricos, como Chile e Argentina no Sul Continental do Planeta, adquirindo a vacina para a imunização do seu povo.
Contudo esta não é a realidade da sociedade brasileira que ainda passa pela experiência do caos governamental que não assumiu o compromisso do poder público em relação à aquisição da vacina como medida preventiva necessária para imunização de contra o novo coronavírus.
No caso da sociedade brasileira, a passagem do ano que termina apontando para um cenário de aumento da quantidade de pessoas que deixarão de ter um mínimo para a sobrevivência em decorrência do anúncio prévio da suspensão e extinção da renda básica, um paliativo aprovado como medida de amenizar as dificuldades da população carente durante a pandemia, a partir de janeiro; aponta ainda para o aumento do desemprego ou de atividade que possibilite a geração renda; tudo com a continuidade da pandemia decorrente da disseminação, contaminação e mortes pelo novo coronavírus, a ser enfrentada com o aumento da falta de equipamentos de saúde para a população atingida pela Convid-19.
Vê-se, portanto, amigas e amigos, que a retrospectiva de 2020 sinaliza para um cenário de adversidades como legado para a continuidade da caminhada existencial em 2021; o que sinaliza para a necessidade de alimentar a esperança na sua superação, tendo por base o fortalecimento de afetos fraternos na construção da solidariedade nas relações particulares e coletivas pela formulação de políticas públicas como saídas; um desafio a ser assumido como compromisso de cada uma e cada um no ano novo que já está logo ali.
Um Ano Novo com saúde e esperança!
REFERÊNCIAS: FACEBOOK. Covid-19: central de informações sobre o coronavírus. Disponível em < https://www.facebook.com>. Acesso em 29 de dez. 2020.
SOBRE O AUTOR:
Manoel Cipriano é Mestre em Educação, com Graduação e Especialização em Direito, Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Autor de artigos, obras didáticas, obras poéticas e de romances; disponível para consultoria e assessoria jurídico-política, dentre outras atividades.
NOTAS [1] Neste momento, os casos confirmados no mundo somam 80.412.311 (oitenta milhões, quatrocentos e doze mil e trezentos e onze) contaminados; 1.758.886 (um milhão, setecentos cinquenta e oito mil e oitocentos e oitenta e seis) mortes no mundo.
[2] Segundo os dados, o Brasil conta, neste momento, com 7.504.833 (sete milhões, quinhentos e quatro mil e oitocentos e trinta e três) contaminados; computa 191.570 (cento noventa e um mil, quinhentas e setenta) mortes. Lembrando que, embora es cômputo seja oficial, as autoridades públicas municipais, estaduais e, mesmo federais, reconhecem se tratar de dados subnotificados.