Um romance com reflexão política que retrata a vida precária e difícil dos moradores de rua. Abordando assim, a falta de apoio político e da Igreja para com eles.
O mendigo: um homem à soleira da Igreja e a margem da sociedade
A obra O mendigo: um homem à soleira da igreja e à margem da sociedade, ora apresentada, foi publicada, na forma de E-book no ano de 2008 em formato impresso, em caráter experimental, em 2010, ambos pela Editora Freitas Bastos, sendo agora apresentada para segunda tiragem revista e atualizada.
Trata-se do resultado das experiências do autor pelas estradas da vida. Um enredo que expressa parte do que o autor sentiu na pele durante o período de vida religiosa no Convento dos Frades Menores Capuchinhos na Cidade de Belém do Pará nos anos oitenta do século vinte.
Nesta obra o leitor lançará o olhar sobre o conflito entre a teoria e a prática do amor ao próximo, enquanto máxima cristã e franciscana, dentro e fora dos muros da Igreja. Vai se debruçar também sobre o embate daquele momento histórico, em que a doutrina eclesial católica vivia a discussão cotidiano entre a ortodoxia e a ala progressista que defendia a opção preferencial pelos pobres como norte do cristianismo. A obra se insere, ainda, no momento histórico brasileiro de transição do regime militar para democracia; o que dá uma dimensão política ao trabalho literário ora desenvolvido.
O enredo do romance versa sobre a situação de sobrevivência de Lázaro, personagem que incorpora a vida de um mendigo, portador de uma elefantíase na perna, que vive o dia a dia nas ruas da cidade de Belém. Meu Frei, um jovem com votos provisórios de pobreza, castidade e obediência, aspirante ao sacerdócio, assume a responsabilidade de cuidar desse mendigo e enfrenta a rejeição interna no Convento.
Em torno deste fato, é feita uma reflexão sobre o abismo entre a pregação do amor evangélico e franciscano e a prática cotidiana dos religiosos e da Igreja. Descreve a situação de opressão e de dor dos esquecidos que vivem o dia a dia, suportando a falta de um bocado para comer, sem um lugar para morar, sem saber o que é cidadania e dignidade humana. De igual modo, faz uma digressão sobre a aculturação dos aspirantes ao sacerdócio, levando os jovens estudantes a se esquecerem da própria origem social e familiar, tudo em nome dos valores eclesiásticos.
Os nomes de alguns personagens do enredo foram criados pelo autor, a fim de preservar a memória e imagem real que é descrita sobre cada um deles ao longo da obra. Mas, embora se trate de uma ficção literária, o autor procura dar um tom real ao conteúdo do texto, de modo que ficção e realidade se misturam, dando a tônica da trama e enriquecendo a dinâmica ao trabalho; o que envolve, ainda mais, aquele que se der ao ofício de se ater sobre o desenvolvimento da estória ora contada, a qual se apresenta como um exercício gostoso para a alma; e isso torna a leitura muito agradável e prazerosa.
Pode-se afirmar, portanto, que O mendigo: um homem à soleira da Igreja e à margem da sociedade procura traduzir, em palavras simples, aquilo que o autor, sentiu, sente e vive na alma e que é a experiência cotidiana de muita gente espalhada nesse imenso território chamado Brasil; uma situação humana que se estende ao viver do povo e ao modo simples das pessoas de outras paragens pelo planeta terra. Outrossim, a obra procura levar energia às pessoas que lutam para não perder aquilo que de melhor lhe resta: a coragem de continuar labutando para manter viva a necessidade da prática do amor ao próximo, independente da cultura, da filosofia adotada ou da opção religiosa professada.
Finalmente, o autor tem plena consciência de que o trabalho ora apresentado não pode arrogar para si o ser uma obra completa e acabada. Acredita, ainda, que, assim como ocorre com o caminhar existencial, trata-se de um esboço, em construção, na constante e insaciável busca da perfeição. Por ser um trabalho modesto, como a simplicidade e humildade daquele que o escreveu, a presente obra procura cumprir a função de expressar, em prosa, a necessidade de um permanente diálogo entre a teoria e a prática para o aperfeiçoamento, dia após dia, das relações humanas.
Uberlândia, agosto de 2019.
M. Cipriano.